quinta-feira, 6 de novembro de 2008

DIÁRIO



Vou tentar começar a contar minha história, e um pouco da historia desse país nos anos negros da ditadura...
O que vai importar nesta narrativa, não é basicamente o que aconteceu com a minha pessoa. Mas, os fatos que aconteceram na minha juventude dentro do contexto histórico do país.
Não pretendo seguir uma ordem cronológica rígida, nem vou fazer uma estudo histórico da época. Vou contar os fatos acontecidos e por mim interpretados dentro da visão de realidade que eu mesma tinha daquele tempo.
Matriculei-me no 1º ano da Escola Federal de Engenharia de Pernambuco, em 1964. No dia mesmo em que entrei na sala de aula, acontecia o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart que havia sido legitimamente eleito pelo povo.
Eu nasci em Recife (Pernambuco), passei toda a minha infância em Campina Grande (Paraíba) onde cheguei aos 2 anos de idade, em conseqüência da transferência de meu pai, que era funcionário da Cia. Atlantic de Petróleo, para aquela cidade, em 1948. Aos 12 anos de idade comecei a trabalhar, dando aulas. Meu pai não era rico, mas ganhava o suficiente para manter a nossa mesa farta, e pagar os melhores colégios para seus quatro filhos estudarem. Minha mãe era uma guerreira. Uma excelente esposa e mãe. Cuidava da casa, cuidava de nós, era exímia costureira (antes de casar costurar era sua profissão) e costurava para nós todos.
Uma coisa curiosa é que me lembro de fatos acontecidos na minha mais tenra infância. Por exemplo, num tempo em que eu ainda usava fraldas, no fundo da memória vejo uma casa com um pequeno jardim na frente e uma escada que situada paralelamente ã rua lá fora, ligava o jardim ã casa. Era Natal. Um dos meus irmãos mais velhos (eu sou a última dos 4) ganhou uma linda ambulância vermelha. Eu ganhei uma boneca... mas a ambulância era linda! eu não conseguia tirar os olhos dela... assim, definitivamente encantada com aquela coisinha vermelha, tão logo meu irmão esqueceu-a num canto, silenciosamente fui lá, peguei a ambulância, e comecei a descer a escadinha para me esconder no jardim com ela. Estava anoitecendo. Enquanto ninava a ambulância como se fosse um bebê, fui descendo a escada. Tropecei, escorreguei e caí escada abaixo. Não me lembro o que aconteceu depois, além da revolta do meu irmão que deveria ter uns cinco anos na época. Acho que ele chorou um tempão e eu, devo ter levado uma ou duas palmadas.
Lembro de umas férias que passamos na praia de Tambaú/João Pessoa. Minha mãe gostava de ir à praia de manhã bem cedinho. Lembro do frio intenso que eu sentia, quando era eu a companhia escalada por ela. Depois, o sol chegava e tínhamos permissão para ficar na praia. Não tenho idéia de quem tomava conta de nós, quando estávamos na praia. Devia ser uma empregada. Porque minha mãe não despregava os olhos dos filhos. Sempre foi superprotetora...
Eu adorava ver a puxada das enormes redes pelos pescadores. A criançada ajudava e ganhava sardinhas no fim. Eu ía com meu “samburá” pequenino e trazia minhas sardinhas que terminavam na panela. (continua na próxima postagem)