domingo, 29 de abril de 2012

Drogas e cidadania NÃO É PROMOVENDO GUERRAS QUE SOLUCIONAREMOS OU SEQUER AMENIZAREMOS O FLAGELO SOCIAL PROMOVIDO PELAS DROGAS, COMO TEM DEMONSTRADO FARTAMENTE A REALIDADE


23 de Abril de 2012 às 21:04Recente pesquisa da ONU nos chama atenção para questões até aqui não muito consideradas quando se busca compreender a relação do usuário e as drogas: indivíduos que se sentem excluídos socialmente têm mais facilidade de se tornarem usuários compulsivos de drogas, lícitas ou ilícitas, entendendo• Drogas: elemento externo ao indivíduo que o permite, por alguns momentos, sair de seu estado de plena consciência, estabelecendo outros parâmetros relacionais com a realidade, levando o usuário a viver em um mundo ilusório. Seu uso pode ser compulsivo ou não, dependendo do controle que o usuário tenha sobre seu consumo. Se ele é compelido a usar algo ou tomar uma determinada atitude independente de sua vontade, ele é considerado “usuário compulsivo” ou viciado, como é popularmente chamado.• Inclusão ou exclusão social diz respeito ao fato do indivíduo se sentir acolhido / pertencente / respeitado ou não pelo meio social que acredita integrar, tendo como fator determinante a relação entre seus direitos e deveres, em que o equilíbrio entre esses dois fatores é a situação desejada, levando em consideração a capacidade / potencialidade de cada um.Ao levarmos em consideração que o ser humano é fundamentalmente grupal e que em nossa sociedade seu primeiro grupo é denominado “família”, a qual tem a responsabilidade de estabelecer os parâmetros éticos e morais iniciais a partir dos quais esse indivíduo se relacionará com o que o cerca, fica evidente que o sentimento de pertencimento a “sua família” é um fator marcante, mas não determinante, na formação do cidadão.Outra pesquisa importante nessa análise foi realizada por Gilson Mansur , que aponta como um dos fatores que contribuem para que adolescentes se tornem usuários abusivos de drogas é a ausência de uma figura identificada como representante da lei, ou seja, o terceiro que vai impor os limites na vida dos membros da comunidade, possibilitando o desenvolvimento de seus integrantes como cidadão.O cruzamento dessas três características da formação de um cidadão (a importância do sentimento de pertencimento da criança e do adolescente a seu núcleo social, baseado na relação entre seus direitos e deveres e intermediada por alguém que tenha a capacidade afetiva de estabelecer os limites dessa relação) implica numa política pública de prevenção ao uso abusivo de drogas que disponibilize elementos e mecanismos que permitam um efetivo exercício da cidadania desde a mais tenra idade, de tal forma que estimule, permanentemente, a busca de um ponto de equilíbrio entre os direitos e deveres de cada um de seus componentes, respeitando suas características individuais.Ao levarmos em consideração que na sociedade contemporânea cada vez mais a escola é o espaço principal de socialização da criança, particularmente nos grandes centros urbanos, fica evidente a necessidade de se promover urgentemente uma corajosa reforma na estrutura de ensino do nosso país, se preocupando menos em transmitir conteúdos e mais em formar cidadãos, como já preconizava Paulo Freire através das “Escolas Cidadãs”.Um exemplo interessantíssimo vem da cidade de Vitória, Espírito Santo, Brasil. Há mais ou menos dois anos, durante o processo de reformulação da educação infantil, a Prefeitura consultou as diferentes categorias integrantes do coletivo escolar dentre elas os alunos, compostos por crianças de zero a seis anos.Nesse sentido, não é por acaso que pesquisa desenvolvida por Mary Garcia Castro e Miriam Abramovay, professoras da USP, e publicada pela UNESCO, apontou as escolas como os principais pontos de difusão e comercialização de drogas no Brasil, sendo que uma outra pesquisa mais recente desenvolvida pelo MEC nos mostrou que estudantes de escolas particulares consomem 40% a mais de drogas ilícitas que os de escolas públicas.Como vemos, não é promovendo guerras que solucionaremos ou sequer amenizaremos o flagelo social promovido pelas drogas, como tem demonstrado fartamente a realidade.Uma política pública responsável e coerente com a construção de um mundo mais justo, ético e solidário tem que necessariamente estimular a promoção efetiva da inclusão social do indivíduo, tornando-o um cidadão de direito e deveres desde a mais tenra idade.Paulo Silveira é membro do grupo Respeito é BOM e eu Gosto! e continuará com o debate sobre as drogas nesta colunaPaulo Silveira

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