terça-feira, 19 de junho de 2012

Vale tudo na política?


ERUNDINA ACABA DE ENSINAR AO PT QUE UMA ELEIÇÃO É MAIS DO QUE UM SIMPLES NEGÓCIO PRIVADO, PAGO COM DINHEIRO PÚBLICO

18 de Junho de 2012 às 22:39

Leonardo Attuch

Uma data histórica e simbólica. A segunda-feira ficará marcada como o dia em que o PT, definitivamente, malufou. E fez isso sem qualquer pudor ou vergonha. Num séquito comandado pelo ex-presidente Lula, compareceram à mansão de Paulo Maluf, em São Paulo, o candidato Fernando Haddad, o presidente da sigla, Rui Falcão, e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. Todos foram lá para, literalmente, beijar a mão de Maluf. Dono de um minuto e 30 segundos no horário eleitoral, ele os ofereceu de bandeja ao PT, não sem antes cobrar a conta: a Secretaria Nacional de Saneamento, em Brasília, que será comandada por seu aliado Osvaldo Garcia. “É bom para São Paulo”, disse Haddad, lembrando que a cidade não tinha nenhum cargo no Ministério das Cidades.
O PT, que um dia já foi um partido “sem medo de ser feliz”, vive hoje um novo momento. Talvez seja o partido sem medo desse infeliz. Maluf, como se sabe, já respondeu a diversos processos por corrupção e está na lista de figuras procuradas pela Interpol. Obras realizadas por ele na capital paulista, como o túnel Ayrton Senna e a Avenida Águas Espraiadas, se transformaram em símbolos de corrupção. Mas já faz tempo. Maluf, Lula e Haddad, agora, são três bons amigos.
Os petistas argumentam que, para tirar os tucanos de São Paulo, todo esforço é válido. Mas tem que ser assim? Será mesmo que todos os agentes públicos devem se render à real politik para chegar ao poder? Os eleitores aceitam esse excesso de pragmatismo? Mais do que uma simples aliança, o acordo fechado entre PT e PP teve o efeito de uma reabilitação política. Maluf, Lula e Haddad se abraçaram, fizeram sinal de positivo e posaram para fotos. Além disso, ao falar sobre o acordo, Maluf, que no governo Lula chegou a ser preso, sacramentou: “Não existe mais direita ou esquerda”.
Se é essa a lógica, a política passa a ser apenas um grande negócio privado, pago com dinheiro público. Um toma-lá-dá-cá cada vez mais escancarado. Isso tem futuro? Certamente, não. A malufização do PT provocou efeitos colaterais já no primeiro dia. Luiza Erundina, que seria vice na chapa de Haddad, pulou fora do barco no mesmo dia. “Eu não aceito”, sacramentou, abrindo espaço para que o PSB indique outro nome.
Agora, o PT terá que escolher: ou fica com Luiza Erundina, que se elegeu prefeita pelo partido em 1989, ou com Paulo Maluf, que foi derrotado por ela. Em outros tempos, seria simples. No mundo de hoje, ninguém entende mais nada.

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